sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Do pandeiro de couro ao de nylon ou dos botequins aos fast foods está decretado a culpa é toda do cabrito




Estes dias estava conversando com um parceio aqui da terrinha e divagavamos sobre a "evolução" do pandeiro de couro para o de nylon e a influência da modernidade neste processo. Eis que ouvindo Moacyr Luz em seu "Delírio da baixa gastronomia" constatei algo até então impensado: Do pandeiro de couro ao de nylon ou mesmo do botequim ao fast food a culpa desta "evolução" toda é do cabrito. Sim meus amigos, pois com a extinção de botecos dos quais este exemplar nos brindava com total sacrifício através de cozidos doando (literalmente) o próprio couro, a vida aparentemente era mais inspiradora. Pois com a modernidade os tradicionais botequins, palcos de discussões filosóficas, onde todo mundo entendia tudo e ao mesmo tempo não entendia nada, hoje trocados pelos fast foods da vida rápida, nossa igualia perdeu toda a sua função culinária e o que é pior, social. Não se veem mais os conflitos do animal que muitas vezes surrupiado animava partidas de futebol com seu couro, ou mesmo a composição de temas sobre conflitos entre os donos deste animal, que nervosos blasfemeavam pela perda e pelo fato de nem ao menos serem convidados as festanças animadas com tal iguaria de seu próprio bichinho. Digo tudo isto ainda sem mencionar a tristeza de observar algumas rodas de samba "fast foods", das quais a alma da boemia e do improviso é trocada pelas parafernalhas de estúdios musicais, onde estão os pandeiros de couro? Assim venho aqui lançar meu manifesto, mesmo com a total contestação do bicho: Retornemos os pandeiros de couro e sambas artesanais onde os cozidos desta iguaria em botequins clássicos nos faziam cantar, beber, sorrir, e até sofrer, sobrando tempo até para compôr não só musicalmente como espiritualmente nossas próprias vidas. Sinto muito pelo manifesto de tal conflito, mas reafirmo que com certeza o culpado de tudo isto é o Sr Cabrito.

Conflito

Zeca Pagodinho

Ai, que conflito
Roubaram o cabrito do seu Benedito
Ai, que conflito
Roubaram o cabrito do seu Benedito
O couro virou tamborim da escola
A carne do bicho entrou no palito
Assado na brasa e cerveja gelada
Muita batucada e cachaça de litro

Benedito ao dar falta do bode
Chegou no pagode com cara de aflito
Pegou o churrasqueiro e deu logo um sacode
Encheu de bolacha o Zé Periquito
Deu tiro na bola, parou a pelada
Que era apitada por Dão Esquisito
Que ao ver Benedito baixando a madeira
Ficou de bobeira engoliu o apito

Mas tinha um tal de Caroço
Que chupava um osso igual pirulito
Esse, Benedito agarrou no pescoço
E atirou no poço na hora do atrito
Pior pro cara do pandeiro
Que cantava maneiro e versava bonito
Mas ganhou uma banda, caiu no braseiro
E gritava bombeiro, me acode, eu tô frito é conflito
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