Entre 1930 e 1970, o desfile das escolas de samba tinha dois
atos: a apresentação do samba enredo e de versos improvisados conhecidos como
sambas de terreiro.
Esse nome se deve ao fato de que os versos eram compostos nos
espaços de terra batida que depois vieram a se transformar nas quadras que hoje
conhecemos.
Após a mudança para tocar somente o samba enredo durante
todo o desfile, as escolas mantém a tradição de cantar e tocar esses sambas de
terreiros nas quadras durante o ano todo, como uma marca da escola, como um
grito de guerra.
E para nossa sorte, essa maravilha saiu das quadras e tem conquistado
os quintais por aí afora.
Você pode estar se perguntando: Quintal? Não escrevi errado
não. É isso mesmo.
Tive o prazer de conhecer nesse sábado, o famoso Quintal do
Portuga na cidade de Limeira-SP.
O simpático Sr. Portuga abre as portas da casa dele, ou melhor, o
quintal da casa para receber centenas de pessoas para prestigiar um dos
melhores sambas de terreiro.
Chão de terra batido, duas ou três árvores para garantir a
sombra e pronto: o local perfeito para o samba acontecer.
Nos muros, painéis com grandes nomes do samba: Cartola, João
Nogueira, Moacyr Luz, Martinho da Vila, Osvaldinho da Cuíca e por aí vai.
Nas mesas espalhadas pelo quintal toalhinhas xadrez dão um charme
todo especial no ambiente.
Culinária de boteco: pastel, cuscuz, amendoim a disposição.
A cerveja geladinha ou a caipirinha de limão a gosto do freguês.
Nessa tarde de sábado, São Jorge bem no centro da roda dá
as boas vindas aos amigos. Serginho e Buzinga são os anfitriões do Quintal.
Junto com uma turma de dez músicos eles fazem o samba acontecer. A amizade e o
talento dos músicos é algo que impressiona. Músicos de cidades diferentes, que
quando se encontram a sintonia entre eles é natural e o repertório sendo
moldado ao vivo. O samba é das antigas, aqueles de qualidade. Se você tiver
pedidos, pode ficar a vontade pra fazer. Música autoral é sempre muito bem
vinda na roda. É músico e foi lá pra prestigiar: logo você está na roda
tocando. Foi só pra prestigiar? Em questão de minutos você está sambando ou cantando
ou batendo na palma da mão ou ainda fazendo tudo isso. É uma coisa de energia,
de pele, é natural.
Não dá pra se segurar. Não dá pra ficar parado. Não tem como
não se encantar.
Umas horinhas de muito sol e calor e a chuva resolve cair. Problema?
Nenhum! A gente interpreta como sendo benção do céu. Espera um pouquinho e
pronto. A chuva cessa e a gente continua.
Molhado mesmo. O chão agora não levanta mais poeira. A terra
batida não deixa poças. A energia foi revigorada. O samba veio com o dobro de
empolgação. E a noite não poderia ficar melhor: a lua deslumbrante, branca e
cheia como gosta São Jorge ilumina o terreiro, a música de Zeca Pagodinho – Minha Fé, todos
abençoados e radiantes pelo espetáculo que acabou de se ver e sentir.
Mais uma vez eu vejo, vivo e posso falar das coisas simples
e boas da vida: espírito de boemia, boa música, família e amigos, amizade e o
respeito com o samba. É isso que se chama samba. É disso que eu venho falando!
Ô sorte a nossa!!!
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A música pulsa como um Eco, estes sons meus amigos são os nossos teleco tecos que vibrantes pulsam igual nossos corações, valeu o comentário!!