
A cortina,
estática pela ausência de vento, se agiganta do alto da grua até esgueirar-se
pelo palco de madeira como quem o agasalha. A plateia, na expectativa de um
grande show, está em absoluto silêncio, exceto por algumas tosses que escapam
ao ordenamento e podem ser ouvidas da coxia. Meu coração dispara. Tudo passa
lentamente e, de modo estranho, parece que nunca sou eu que estou ali. Reparo
que para os meus pares também é um momento de tensão. O teatro está lotado. O
som que foi passado está bom? Será que desafinou alguma corda do meu
instrumento? Pairam sobre as nossas cabeças as dúvidas de sempre e é preciso
tomar cuidado para que elas não se imponham à concentração exigida naquele
momento. Busco águas calmas em um porto seguro. E lá está meu farol: Thereza
Alves, uma rocha delicadamente concentrada. Cabeça baixa, dedos entrelaçados
nas mãos que repousam calmas logo abaixo da cintura, os lábios se mexem
inaudíveis como quem murmura um mantra. De repente, a cabeça sobe lentamente, os
seus olhos se abrem e eles encontram os meus. Ela sorri. E, dali em diante, eu
tenho a absoluta certeza de que tudo dará certo e o show será perfeito.
Thereza
entra no palco aplaudida. São mais de 50 anos dedicados a arte. A arte de
cantar e encantar plateias. Surgem os primeiros acordes e, pouco a pouco, vou
me liquefazendo, me moldando, buscando o meu espaço entre os sons da marcação e
os ponteios das cordas. Thereza abre a voz anunciando a chegada do primeiro
refrão. Paulatinamente, aquela tensão vai se transformando em prazer absoluto.
Ela está de costas para mim e observo cada movimento, cada gesto, cada nota.
Tudo minuciosamente belo. Sem exagero, mas exageradamente lindo. Tudo nela me
soa puro, sincero, sem floreios desnecessários. Uma joia que o clarão da luz em
contraste com a pele negra deixa ainda mais linda. É a Pérola Negra.

Após o bis,
finda-se o show. Thereza agradece ao público que retribui aplaudindo de pé. Ao
virar-se para agradecer os músicos meus olhos encontram os seus já marejados e
tomados pela emoção. Não, Thereza, nós é que temos que agradecer por termos tão
perto uma artista do seu gabarito. Agradeço por ter mantido seu talento intacto
ao longo dos anos. Agradeço por ter atravessado gerações para também encantar a
minha. Temos muito, mas muito o que aprender com a sua arte. Serei eternamente
grato por ter a honra de dividir, palco, emoções e canções contigo.
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A música pulsa como um Eco, estes sons meus amigos são os nossos teleco tecos que vibrantes pulsam igual nossos corações, valeu o comentário!!